segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Não

Ninguém te trouxe. Ninguém te viu. Ninguém te amava como nós. Não seríamos os únicos a quem não eras indiferente, ou pouco mais?
Como é possível ter acontecido logo contigo? Saías pouco, não te afastavas... Estavas em casa mais tempo que qualquer um dos outros. E gostavas tanto...
Gostavas tanto de entrar na minha cama logo que o dono saía para o trabalho.
Gostavas de vir pedir mimos mesmo sabendo que a tua mãe tentaria expulsar-te e acabaria por ir embora amuada.
Gostavas de te deitar em cima do mano quando ele estava no banquinho. Mas ele fazia-te o mesmo...
Gostavas de caçar ratitos e os trazer para a cozinha. E passarinhos.
Não gostavas da comida Continente. Só comias bolachinhas e refilavas baixinho.
Tu miavas sempre baixinho, com os teus olhos de bonequinha e focinho cor de rosa. Eras uma gatinha cor-de-rosa e a coleira ficou-te tão bem... Mas não serviu de nada.
O que te terá acontecido?
Não foste atropelada ou ter-te-ia encontrado. Não ficaste perto, em nenhum local acessível. Não te ouvimos, não te encontrámos. Ninguém sabe de ti.
Saberia o Inca, quando miou tanto naquela noite? Mas não conseguímos segui-lo e quando o fizemos não nos levou a lado nenhum. Ele estava à tua procura pois correu a casa toda num ápice.
A tua mãe não se conforma. Fica em cima do muro a olhar para longe, de orelhas espetadas. Ou no pátio do sótão, ou no telhado.
O cão Ky chamou-te até à exaustão, procurou o teu som ou o teu cheiro e não te encontrando estourou em ataques epiléticos. 24 horas. Agora está melhor, mas com o olhar triste.
Nós? Nós já não sabemos o que é ter os olhos secos.
Planeta infestado destas animais infernais que destroem tudo à sua passagem. Humanos nojentos! Bicho estúpido que fez a sua própria destruição e mesmo em consciência, continua. Retira matéria do subsolo e acha estranho que a terra e o mar reajam. Contamina os oceanos cuja água é 90% do seu corpo. Rasga a capa que protege o planeta das ameaças exteriores, aumenta-a continuamente.
Mata plantas e animais. Diverte-se com o seu massacre.
A todos os que agridem voluntáriamente os animais - caçadores, toureiros e demais assassinos - eu desejo uma morte lenta, lenta e muito dolorosa. E desejo que vejam sofrer por muito tempo aqueles de quem gostam. Pois é essa mágoa, essa dor lancinante que sinto cada vez que um dos meus animais leva um tiro, é envenenado, morre ou simplesmente desaparece. Não há por aqui causas naturais no desaparecimento dos meus bichos. Só restam as propostitadas. Armadilhas, venenos, veículos.
Aos assassinos que já referi, reitero: Sofram uito e por muito tempo. Afinal, vocês acreditam no tal deus que vos dá a felicidade eterna se amargarem muito toda a vida. Façam então pela vossa alegre eternidade, que eu prefiro ser feliz por cá.
Só nós é que matamos e destruímos por desporto, por prazer. Merecemos que a Natureza - o verdadeiro DEUS - resista e nos faça o mesmo a nós.

Foram os meus últimos pensamentos para ti. Já nem foto tenho coragem de pôr. A partir daqui, és uma gata que nunca existiu. Como o gato Chi. Nunca existiu, não deixou lembranças, não há motivo para sentir nada.

NÃO SENTIR NADA!